terça-feira, 22 de dezembro de 2015

EU e meu EX

Ouvi Jupiter Maçã pela primeira vez na época da Faculdade com meu Ex. Eram meus vinte anos.
Foi uma época de intensas experiências culturais. Tudo era novidade. Dele veio o Cinema Europeu com a profundidade de Truffaut, Godard, Pasolini e meu queridinho espanhol, Buñuel - Ahhh o Discreto Charme da Burguesia. Não me esqueço de um filme holandês chamado O Ilusionista - uma raridade que ele encontrou nunca locadora de filmes cassete super alternativa. O filme completamente mudo trouxe a mais singular experiência cinematográfica da minha vida.
A colorida e marcante década de 60 americana, historicamente marcada por uma intensa luta por direitos aflorou através de Jefferson Airplane e Strawberry Alarm Clock, carregados pela atmosfera do Movimento Hippie e da Psicodelia
Mostrou o Surrealismo na Arte e na Filosofia. Muitos Dalís e movimentos de Picasso. Colecionávamos as impressões de Obras de Arte de uma coleção da Revista Caras. Tenho até um Klimt pendurado na parede - O Beijo
Tivemos muito Os Mutantes. Voltei a entender a magia do som de Vinil que apreciava quando criança. Quantas vezes ouvi sobre Charles Baudelaire e como tinha dificuldade em digerir aquele Poeta. Dividiu comigo tudo que tinha de mais precioso, incluindo sua paixão pelas Artes e pelo Ser Humano Social. 
Tais recordações me faz refletir sobre as influências trazidas pelas pessoas que encontramos pelo caminho, e a energia da matéria e da subjetividade se movimentando envoltas por ondas de equilíbrio e instabilidade, e tudo que há entre esses dois elementos.
Formada de planícies, quando menos se espera se torna planalto, e assim as relações humanas vão se moldando pela mudança da paisagem. Somos nós também o reflexo do outro, logo complexos. Taí, também, a beleza da intimidade, das paixões, das amizades, da família, das relações profissionais, do contato com outro Ser.
A foto é o folder original do Show que fui com meu EX em 2009. 
Eu e minha Ex é o nome de umas das canções do disco A Sétima Efervescência do Mágico Júpiter Maçã, e também uma das minhas favoritas desse disco. 
Júpiter, descanse em paz.


E vocês, aproveitem as relações humanas e essa canção de pirar.

domingo, 6 de dezembro de 2015

A essência de um Ser Atriz

Marília vive Irene em Central do Brasil (1998)... quando penso nela no cinema, esse é o primeiro filme que vem a mente. Marcou, pois foi quando entendi que havia um cinema nacional, e que precisava explorá-lo. 
É tão artista e completa que não precisa de protagonismo para brilhar. Ela é brilho próprio.
Foto: ao lado de Fernanda no filme. Dupla de mulheres gigantes.
Quando a vejo atuar são os olhos e a voz que hipnotizam primeiro. Ela, a atriz, te arrebata no primeiro segundo. O domínio da fala, da personagem e a consciência corporal em cena - Leveza. É bonito de se ver, é sublime de sentir.
Marília Pêra 1943 - 2015

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Amou daquela vez como se fosse a última

Na época eu morava em Votuporanga, interior de São Paulo. Durante uma aula de gramática, a professora pediu para analisarmos e contarmos as sílabas métricas da música Construção de Chico Buarque. Aquele momento ficou marcado, pois foi a primeira vez que ouvia Chico, prestando atenção nos seus detalhes, na sua letra e nos seus ruídos. A experiência naquele momento deixou de ser escolar para tornar-se musical e poética. Ouvir aquela canção, imaginar as cenas da sua narração dramática, tudo para mim era novo, uma sensação diferente. 

Refletindo sobre esse fato levo-me a pensar que, talvez, naquele momento, a paixão que hoje eu tenho pela música - cultivada desde minha infância – tenha se consolidado naquele curto instante de tempo. Cheguei a essa conclusão numa tarde ensolarada do mês de outubro de 2009, ao sair da PUC após um longo sábado de aulas. Corri para uma banca de jornal e fui conferir se a Rolling Stone Brasil de outubro já estava disponível. Comprei a revista, e dentro do ônibus conferi, de forma voraz, o resultado que elegeu as cem maiores músicas brasileiras. Ansiosamente deparei-me com o primeiro lugar, e adivinha?! “Construção do mestre Chico Buarque de Holanda conquistou a medalha de ouro. Foi nesse exato momento que eu viajei no tempo e cheguei até 2000 para perceber o quanto Chico havia influenciado minha vida, minhas experiências estéticas e minhas vivências poéticas.  

Um singelo toque na minha percepção, vindo através da leitura de uma revista musical, despertou em mim um breve momento onde busquei a mim mesma em fatos do meu passado para que eles pudessem iluminar a minha tentativa de compreender o meu presente. O que eu sou? Como tornei-me isso? Quais as coisas que delinearam meu comportamento e meus valores? Com esse conjunto de perguntas complexas fui levada a querer me redescobrir. Naquele momento tornou-se necessário, e até desafiador, entender os motivos da presença do artista Chico Buarque nove anos após nosso “primeiro” contato 

Da saída da PUC até colocar o pé em minha casa questionei todas as possibilidades, revi toda a presença de Chico, seja numa festa universitária da faculdade, seja cantando no carro “Olhos no olhos” com uma amiga do colégio; mas também relembrei a fase da experiência da percepção poética e do conteúdo das letras apaixonadamente dolorosas; mas para frente, nas aulas sobre ditadura militar no colégio, descobriria o Chico Contestador, criador de uma das obras engajadas mais incríveis do cenário musical brasileiro durante o regime militar brasileiro. Todas essas constatações foram acontecendo de forma natural e muito agradável. 

O que fiz depois que cheguei minha casa? É claro que eu fui ouvir “Construção”. Há muito tempo não ouvia essa canção. Emocionei-me com a riqueza criativa do artista. Chico prolifera de forma enigmática a ideia do drama e da inevitável condenação daquele homem a um destino cruel. Fui levada a me teletransportar até aquela construção; imaginei a face daquele operário, da sua mulher, dos seus filhos. Senti por um tempo aquela música. Lembro de um fim de tarde quente com experiências subjetivas emocionantes.
Apenas sinta essa sublime experiência: Disco - Construção (1971)


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Complexa Arte do Cotidiano


“My favorite things”, na versão do mestre do saxofone John Coltrane, é a mais bela canção de Jazz que já ouvi. E o mais interessante é ter ouvido num filme sobre um homem contador de histórias do cotidiano que, mais tarde, se tornaria uma grande influência minha e dos quadrinhos. O nome desse personagem real é Harvey Pekar, e o nome de tão admirável filme é “American Splendor” (2003). 

Basicamente, o filme trata a trajetória de vida de um simples funcionário público de Cleveland (US) na década de 1970, e que, após publicar suas histórias em quadrinhos, tornou-se famoso dentro da comics scene, frequentando programas de televisão populares como o Late Show.

A linguagem cinematográfica usada pelos diretores R.Pulcini e S.Springer Berman foi um elemento que chamou atenção. Intercalam-se dois espaços, o do ator e o da sua fonte de inspiração. Lado a lado, o enredo desenvolve-se a partir das impagáveis cenas do protagonista interpretado pelo ator Paul Giamatti e de depoimentos do próprio Harvey Pekar em sessões de gravação regadas a Jazz. Aliás, umas das paixões do artista (faleceu em 2010).

Do forte apreço pelo Jazz nasceu uma parceira muito enriquecedora, do ponto de vista artístico, entre Harvey Pekar e Robert Crumb, o mais cultuado desenhista de revista em quadrinhos da década de 1960 nos Estados Unidos. Crumb não quis definir seu estilo, mas críticos afirmam tratar-se do mestre dos undergrounds comics, além de ícone da contracultura norte-americana. 

O filme trazia muitas novidades para mim. Claro, eu já tinha ouvido falar sobre o Jazz, já tinha visto um filme sobre a trajetória pessoal e artística de Crumb, mas só naquele momento as coisas tinham ficado mais claras e interessantes. Na locadora eu escolhi por acaso o filme, ninguém o indicou e nunca tinha, sequer, ouvido falar sobre o assunto. A experiência foi realmente arrepiante, e é nessas horas que me entrego “às artes”. 

Não sei exatamente quando essa paixão nasceu, mas minhas experiências têm feito com que eu busque as raízes que conectam minha subjetividade a essas fontes de inspiração. O que eu entendo é que basta abrir todos os espaços interiores para absorver uma gama de emoções propiciadas pelas Artes.

Mas, voltando ao filme, depoimentos de Pekar narram que a amizade entre os artistas nasceu de um encontro num desses brechós de fundo de garagem que ofereciam discos de Jazz a preços bem acessíveis. Havia entre eles algo muito comum e inspirador, inicialmente traduzido em longas audições de Jazz. 

Mais adiante, a dupla seria responsável pelo conteúdo de “American Splendor”, título da revista em quadrinhos escrita por Pekar e desenhada por Crumb. Os textos traduziam toda a amargura, alegria, angústia, momentos de solidão e de amor, de um homem portador de uma carga psicológica intensa e sensível, que apostou transformar em arte sua própria história. Pekar escrevia sobre sua rotina diária, a partir de uma visão engraçada, emocionante e cheia de ironias deliciosas.

Além das diferentes percepções da história de vida de Pekar, o Jazz (fonte de inspiração para a trilha sonora), também passou a sua mensagem, pois meus ouvidos voltaram-se para aquele som enigmático e poderoso, que transformava cada momento do filme em uma experiência cênico-musical incrível. Meu apreço pelo Jazz desabrochou-se enquanto eu me aventurava pelo universo de Pekar. 

Chama-me muito a atenção a forma como a arte pode envolver um indivíduo a partir de formas inusitadas. No meu caso, por exemplo, uma simples ida à locadora, seguida de uma escolha aleatória de um filme, causou, em mim, um efeito maravilhoso que, mais adiante, desencadearia interesses tanto pela obra de Pekar como pelo Jazz. 

A partir da fusão cinema e música levo-me a pensar como são especiais as ramificações da arte na medida em que possuem uma capacidade inacreditável de se misturarem. No caso de “American Splendor” se traduz, de forma muito rica, a aliança cinematográfica e musical. Nesse momento, para mim, a arte dispensa qualquer tipo de classificação. Se ela toca na alma e trás inspiração, ela cumpriu a sua função. 

Minhas primeiras sessões de Jazz foram na graduação entre leituras, trabalhos e TCC; isto ajudou muito a desenvolver minha concentração, pois deixava-me inserida à atividade que eu estava fazendo, libertando-me de qualquer pensamento alheio. O poder que a arte pode exercer sobre o ser humano é realmente surpreendente.







terça-feira, 31 de março de 2015

O Porquê!

Ao longo da minha existência percebi que sou fascinada pela Música. A minha relação é de contemplação. Na infância, descobri no fundo da gaveta duas fitas cassetes do Raul Seixas pertencentes à minha mãe. Naquele momento parti para uma viagem sem volta. Apertei o play, aumentei o som, usei qualquer coisa de microfone, e então me senti rebelde cantando Metamorfose Ambulante.

Aliás, a juventude é um troço muito louco. Para mim, ela carrega a maior carga de energia rebelde do Ser humano. E rebeldia pode ser medida por diversos formas. Você pode ser um rebelde político, mas também pode ser um rebelde consigo mesmo, ou os dois, ou muitos, ou infinitos. Ao Homem não cabe definição, pois ele é plural. O passado pouco importa. Você não é o que ficou para trás. Mas então, quem somos? Se pensarmos que não existe uma resposta, talvez a vida fique mais interessante, misteriosa e a cada oportunidade, uma descoberta!

A primeira vez que procurei pela terapia holística, a astróloga colocou que meu ascendente capricórnio caracteriza uma audição apurada para a Música. Que o fato deu vibrar ouvindo Jazz, música Clássica, o instrumental surreal do Pink Floyd ou o movimento corporal invisível da batida do Reggae tinha um por quê enviado pelos Astros.

A verdade é que esse Blog não é do tipo musical, que posta discos e fala sobre canções. Ele sugere algo particular, biográfico e intrinsecamente inspirado pelas Artes. Sua denominação é nada mais que uma charada que carrega um ponto de interrogação: Yo.